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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

O ataque secreto dos B-52 que foi comparado a missão de Doolitlle


“Minha Mulher vai querer saber o que estava fazendo na noite passada, mas ela jamais saberá. Pessoas vão desconfiar que estávamos fazendo algo, mas nunca vão imaginar que estávamos lançando CALCM no Iraque”. Frase dita por Marcus Myers, capitão de um dos sete bombardeios B-52 que participou de uma das missões mais secretas desenvolvida pela força aérea Americana, que praticamente deu início a operação “Desert Storm”, na guerra contra o Iraque de Saddam Hussein.

No final da década de 80 a Boeing foi contratada para modificar as bombas AGM-86. Foi instalado o novo sistema que eles chamaram de CALCM (Conventional Air-Launched Cruise Missiles). Nestas novas bombas, dotadas de motores a reação, asas como de aviões, rápidas, em torno de 1.000 libras de explosivos, com o novíssimo sistema GPS e sistema inercial de navegação, a precisão de acerto poderia ser cirúrgica em campos de batalha. A AGM86-CALCM era a mais nova arma ULTRASSECRETA do governo Norte-americano.

A bomba ainda estava em testes finais, e a notícia sobre elas não poderiam vazar, pois os EUA e a URSS tinham acabado de assinar um acordo para diminuição de armas após o fim da guerra fria. Mas no dia 2 de Agosto de 1990, tropas iraquianas invadiram o Kwait.

Ordens superiores poderiam chegar a qualquer momento e não haviam tropas suficientes no oriente médio para combater uma possível invasão iraquiana a Arábia Saudita, aliado americano, e a preocupação em achar uma solução para diminuir a força iraquiana era grande. Mas qual seria esta solução? Atacar o Iraque com bombardeios B-52, decolando dos EUA, após eles lançarem as AGM-86C nos pontos estratégicos iraquianos e voltarem aos EUA! Seria atacar alguém mais da metade do outro lado do planeta e voltar, fato inédito até então.

Disse o General “Buster” Glosson; “ Nós tínhamos que estar prontos para ser uma opção para o governo dos EUA, e naquele momento ele não tinha muitas opções.” Foram alocados sete bombardeios B-52 na base aérea de Barksdale, estado da Louisiana. 15 tripulantes foram convocados e o plano de voo traçado. Agora o projeto secreto tinha corpo e nome, “Secret Squirrel Program”; (preferi não traduzir, rsrsr).

Relatórios não paravam de chegar a base aérea, eram dados dos alvos iraquianos a serem atingidos, as redes de alta tensão, usinas elétricas na cidade de Mosul e centrais de comunicação do país, foram escolhidos a dedo. Decidiram não usa-la em Bagdá, pois naquela época haviam pouco satélites do GPS, além de nunca serem usadas em combate real. As bombas Tomahawk eram mais confiáveis em áreas muito populosas. A intenção era enfraquecer a comunicação e acabar com a rede elétrica do Iraque, enfraquece-lo de forma estratégica, antes que as tropas invadissem por solo. Agora os tripulantes entram em alerta “Alpha”, o máximo usado na escala militar americana.

Disse o Major Marcus Myers: “Passamos semanas e semanas ‘brifando’ a missão e estudando o comportamento básico dos B-52, mas nem eu e ninguém do esquadrão poderia acreditar que realmente poderíamos fazer isso.” Ninguém ali, havia operados os B-52 com o seu peso máximo de decolagem, 244 toneladas, e para tirar tudo isto do chão eram necessário bem mais do que os 2.700 metros de pista da base de Barksdale. E outro detalhe, cada B-52 estava carregando 7 bombas AGM-86 CALCM, 4 abaixo de uma asa e três abaixo de outra, causando um pequeno desbalanceamento.

O plano de voo consistia: Decolar de Louisiania, sair dos EUA pela costa leste, atravessar o Atlântico norte, entrar pelo sul da Europa, na vertical do Mar Mediterrâneo, após Egito e enfim, no Iraque, após lançarem as CALCM, retornar a base de Barkdale seguindo a mesma rota. Tanto ida e volta com reabastecimento aéreo.





 No dia 29 de Novembro de 1990, os países que compunham o conselho da ONU assinam a resolução 678, autorizando a utilização de todos os meios necessários caso o Iraque não retirasse suas tropas do Kuwait até o dia 15 de janeiro de 1991. China, Yemen e Cuba votaram contra.

Passado as 24 horas de tolerância, Sadam Hussein não retira suas tropas do Kwait, então, as três horas da manhã do dia 16 de Janeiro de 1991, a voz do General Beard ecoa pelo sistema de som na base aérea de Barksdale; “Toda tripulação ‘Sierra’, apresentem-se no escritório central da base.”

General Ellie G. “Buck” Shuler Jr, pensou quando estava caminhando para a sala de brienfing; “Se todas estas aeronaves estão fora dos hangares, preparadas, abastecidas e armadas, era um claro sinal de que estávamos indo para a Guerra.”

General Shuler, após o brienfing da missão comentou o quanto era importante aquele momento, comparando ao ataque de Doolittle de 1942, quando os EUA atacou o Japão com bombardeios B-25 em resposta aos ataques de Pearl Harbor.

Naquele momento o estado de missão ultrassecreto era tão grande que nem todas pessoas da base poderiam saber o que estava acontecendo, General Beard não autorizou nem abastecer as aeronaves com mais alimentos e água, para não alertar o pessoal da cozinha. Sendo assim, os sete B-52 decolaram da Base aérea de Barksdale com alguns pedaços de carne e cinco galões de água potável em cada aeronave.

Pouco antes da decolagem, general Glosson, recebeu informações de que radares da Líbia poderiam intercepta-los quando sobrevoassem o mar Mediterrâneo e este país alertar o governo de Saddam Hussein sobre um possível ataque aéreo aproximando-se a oeste do Iraque. A ordem era apenas de; voar até o início daquele mar até que os F-117 pudessem atacar alguns radares estratégicos iraquianos, após isto, o esquadrão poderia prosseguir na sua missão.

Cada B-52 recebeu um nome no esquadrão, o líder era o Doom 31 e iria até o número 37. General Beard era o líder do esquadrão e estava no comando do “Squirrel Secret Program” abordo do Doom 31.
Os sete B-52, esquadrão “Doom”, decolaram da base aérea de Barksdale carregando ao todo 39 bombas AGM-86C, destino; Iraque.

Capitão e Co-piloto Warren Ward, logo após as rodas de seu B-52 desprender do solo, tendo como testemunha os primeiros raios solares surgindo no horizonte no céu do estado da Louisiania. Olhou para baixo e observou o prédio da faculdade aonde tinha estudado, a Louisiania Tech University, e pensou; “Será que verei isto novamente?” Foi uma das coisas que passou em minha mente naquele momento.” Disse ele meses depois.

 

 Ao cruzar a costa leste norte americana eles tomam proa leste para iniciar a travessia do oceano Atlântico norte, horas depois, próximo a Ilhas dos Açores, aeronaves abastecedoras, KC-135, haviam decolado da base aérea de Lajes. Coronel Beard chamou todos os outros seis B-52 na frequência de segurança, para checar seus equipamentos e se tudo estava normal. Tudo estava, menos com o B-52 Doom 34, até o momento ele não tinha reportado nada, estava em silêncio. Coronel Beard, pronto para chama-lo novamente logo ouve eles pelo rádio; “Nós estamos trabalhando em algo agora, e logo iremos voltar a atenção ao senhor, General.”

Era Michael Branch jovem co-piloto do Doom 34, Branch tinha se formado como piloto militar na base aérea de Vance, Oklahoma. Determinado, atleta e treinador de futebol americano. Não teve uma longa vida após esta missão, ele faleceu de câncer dois anos depois, em 1993.

Mas o comandante Bernie Morgan e o Co-piloto Michael Branch, naquele ponto, antes do reabastecimento aéreo, eles não poderiam mais voltar, e nem pousar em outro lugar, devido ao posicionamento externo das AGM-86C, arma ultrassecreta até então. Eles haviam decidido continuar a decolagem após avisos de problemas com a pressão de óleo de dois motores e corta-los, sendo assim, seu B-52 Doom 34, estava voando apenas com seis motores. Atitude heroica, eles estavam decidido a não abandonar o esquadrão, pois eles tinham reportado tal pane, apenas neste momento para o General Beard. Caso Beard soubesse antes, poderia emitir ordem para eles voltarem imediatamente a Barksdale.

Termina o primeiro reabastecimento sobre as Ilhas dos Açores com os KC-135, agora o esquadrão prossegue para o Mar Mediterrâneo, e como o programado, outro reabastecimento, desta vez com as aeronaves KC-10 proveniente da Base Aérea de Monroe, Espanha. Os navegadores a bordo observam que até então ninguém os tinham captado em radares inimigos. Ninguém sabia que eles estavam lá, mas uma identificação surgiu e o capitão Todd Mathes, abordo em um dos B-52, poderia identificar quem os estavam observando através de radares, eram os russos! Para ser mais exato, a marinha russa, provavelmente alguma esquadra Russa no Mar Mediterrâneo. Mas, felizmente, não houve nenhuma reação a partir deles.




Agora o esquadrão entra no espaço aéreo do Egito, prossegue para o mar vermelho e começa a armar as 39 bombas AGM-86C. Rádios foram desligados, todas as luzes apagas, era momento de silêncio total. Quatro bombas apresentaram problema em seus softwares, e a ordem era não lançar bombas com o menor defeito que fosse. Isto poderia influenciar no arrasto não calculado na volta aos EUA, ocasionando um aumento no consumo de combustível e mudanças no plano de voo inicial.

As 35 bombas AGM-86C restantes foram lançadas dos sete B-52 em um intervalo de dez minutos entre a primeira e a última, tudo foi calculado para que todas caíssem simultaneamente em seus alvos. “Foi um momento de muito excitação durante o lançamento das bombas, mas sabíamos, e que provável iria acontecer, aquelas bombas iriam causar muita mortes”. Disse Blaise Martinick, um dos tripulantes.





Lançadas 35 bombas, apenas 32 conseguiram atingir seus alvos e detonar os explosivos com êxito. O motor de uma delas, um Willian F107 turbofan, falhou durante o lançamento, logo após ela foi encontrada intacta no solo e detonada para que não caísse em mãos inimigas. Outra atingiu seu alvo, porém não detonou. Outra foi lançada e perdida, jamais foi encontrada.

Alguns dizem que a missão teve êxodo de 81% a 90% de alvos acertados, acima dos 80%, mínimo esperado para esta missão. “Na próxima noite, quando o Sol se pôr, o Iraque não terá luz”. Disse general Glosson. E de fato não teve. Após a última bomba lançada, os sete B-52 curvam para o oeste e inicia a longa jornada de volta aos EUA, base aérea de Barksdale, porém, a missão estava longe de acabar.

Enquanto eles tinham a ajuda do vento de cauda para ir ao Iraque, para voltar eles teriam que enfrentar um forte vento de proa. “O retorno seria muito mais longo, tanto fisicamente como psicologicamente”. Disse Todd Mathes, um dos tripulantes do esquadrão.
Além do vento, eles tinham uma aeronave voando com “apenas” 6 motores, sendo dois cortados devido problema de pressão do óleo, era o B-52 Doom 34, do comandante Bernie Morgan e o Co-piloto Michael Branch, citados anteriormente neste artigo (parte 2).

Haviam mais dois B-52s com variação na pressão de óleo dos motores e quatros B-52s com bombas AGM-86C debaixo das asas, causando mais arrasto, consequentemente mais consumo de combustível, e outro sem rádios de comunicação.

Para atrapalhar mais, as condições meteorológicas sobre o Mar Mediterrâneo eram péssimas, pouca visibilidade, contudo, com apenas 30 minutos de combustível, eles conseguiram visualizar os KC-10 reabastecedores, proveniente da Espanha, base aérea de Monron. Desta forma, quase nos mínimos de segurança operacionais, foi realizado o primeiro reabastecimento no ar a caminho no retorno para casa.

Os problemas continuavam, ao entrar no Atlântico o esquadrão se depara com ventos de 110Kt a 140Kt de Proa! Sendo que no plano de voo deles, na pior condição estudada era de 90Kt de vento de proa. General Beard ordenou várias mudanças de níveis para tentar pegar ventos mais favoráveis, sem sucesso, eram da mesma velocidade em todos os níveis.

Como haviam bombas AGM-86C em quatro B-52, eles não poderiam pousar nas bases aéreas Europeias, além de serem bombas ultrassecretas, elas pareciam um armamento nuclear, pousar naquele continente estava totalmente fora de questão. Para ajudar, reabastecedores da base aérea de Lajes estavam em solo devido a ventos fortíssimo, sendo assim, não poderiam decolar para realizar o segundo reabastecimento do esquadrão de B-52. Agora a missão poderia entrar em sérios riscos.

Cálculos foram refeitos, com o combustível, vento, arrasto e pesos a mais não esperado, ainda assim, os sete B-52 poderiam alcançar a costa leste americana. Foram acionados reabastecedores da base de Robins, Georgia, algo fora do planejamento inicial. Mas somente desta forma eles poderiam completar o voo.
Os setes B-52 pousam na base aérea de Barksdale, Louisiania, aonde decolaram no início desta grande missão a mais da metade do outro lado do planeta. Logo após o pouso elas foram diretamentente aos seus hangares, quanto menos pessoas observassem, melhor. A ordem era de que ninguém comentasse nada sobre o que tinha acontecimento, mas de fato, eles lançaram as primeiras bombas da operação “Desert Storm”, agora o Iraque estava mais enfraquecido, e outras forças próximo daquele país estavam cumprindo com suas funções com mais facilidade.

Coronel Blaise Martinick, lembra quando estava sentado na frente de sua televisão e assistia reportagens sobre os caças F-117 aonde dizia que tinham sido os primeiros aviões a atacar o Iraque, lógico que ele tentava se conter ao máximo ao observar aquilo por muito tempo.

Passou um ano e a missão foi desclassificada de ultrassecreta, logo, a tripulação poderia contar a todos como foi executada em detalhes esta missão. Várias coletivas para a imprensa foram realizadas, os tripulantes foram homenageados com o prêmio “Air Medal”, a “Squirrel secret program” foi a maior prova de que a força aérea americana tinha poder de ataque global. Porém isto não foi somente devido a mais alta tecnologia da época, as bombas AGM-86C, e a bravura dos B-52, mas também da coragem, determinação e força dos tripulantes, que enfrentaram mais de 26.000 km e 33 horas e meia voando para cumprir a missão. Quase a mesma distância de 29 idas e voltas entre Rio e São Paulo.

De todos os sete B-52 que participaram desta missão, vários deles foram estocados no deserto na base de Davis-Monthan, entretanto, o número de série 58-0183 “Valkyrie” (Doom 36) e o 58-0185 “El Lobo II”(Doom 37), foram colocados em exposição. Valkyrie se encontra no Pima County Air Museum, El Lobo II está descansando no Air Force Armament Museum da base aérea de Eglin, Flórida.

Em pouco tempo, outros B-52 bateram o recorde estabelecido pelo esquadrão do “Squirrel Secret Program”. Mas esta missão marcou história por ter sido a primeira a partir de território americano e voltado a mesma base.



 

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